Principais impactos ambientais sofridos

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Impactos sociais e focos de resistência

Outro fator apresentado pelos especialistas diz respeito ao impacto sócio-cultural causado pela mudança  da paisagem do Pampa e sua atividade econômica. “Primeiramente, existe uma farsa também na questão dos empregos gerados pela indústria da celulose. As condições de trabalho são praticamente inexistentes. Com a predominância dessas plantações, faltam outras oportunidades de emprego no meio rural. Isto provoca o êxodo, que conseqüentemente gera outros problemas sociais”, explica o jornalista Victor Bachetta.  Já o professor da UFRGS Valério Pillar apresenta outro ponto de vista na mesma questão. “O povo gaúcho tem sua origem ligada ao campo aberto, às atividades rurais estabelecidas nesta região. Portanto, quando ele desce do cavalo e cede sua terra para a plantação de maciços (áreas de grande extensão e muito cerradas), ele está abrindo mão de um estilo de vida, ocorre um movimento inverso à sua natureza. A adaptação a este novo modelo é muito difícil. O peão que está acostumado a lidar com o gado dificilmente se manterá em uma atividade como, por exemplo, matar formigas – praga típica do eucalipto. Nunca foi feito um estudo, mas tenho certeza que as regiões onde esta atividade está amplamente consolidada enfrenta uma série de problemas sociais”, afirma Pillar.

Por esse motivo, a identificação com a terra é um dos principais esteios da resistência ao modelo econômico da celulose. “Através da identidade de um povo, pode-se pensar que há como vencer esta batalha”, afirma o jornalista uruguaio. “Há também a questão das propriedades familiares, em que o desligamento com a terra não é simples, há uma tradição histórica em jogo”, diz Pillar. Em outros países, outro foco de resistência é a presença indígena. No Chile, onde as culturas da indústria da celulosa já estão consolidadas, a tribo Mapuche trava uma luta ferrenha para não ceder sua área. “Até conselhos feitos somente em épocas de guerras já foram organizados na tribo”, lembra Bachetta. “Muitos grupos lutam contra esse sistema, mas separados. Creio que, com união, podemos avançar em idéias para salvar nosso meio-ambiente”, diz o jornalista.

Já em relação à economia da região, Pillar sugere uma forma de preservação aliada a uma atividade econômica muito tradicional: pecuária. “A criação de gado, como já foi dito, sempre foi a atividade econômica mais exercida na região da Pampa. A ganaderia foi praticada por aqui durante três séculos, sempre mantendo as características do bioma. É a maneira mais compatível, economicamente, de manter o bioma preservado”, pensa o ecologista.

* Gabriel Marquez Gonçalves é estudante do 6º semestre de jornalismo do Instituto Porto Alegre (IPA). Esta reportagem foi feita sob supervisão da professora de jornalismo Lisete Ghigghi

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